quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Investidores americanos no Iraque

Revista NewsWeek. Outubro, 2007.


Vamos fechar um acordo em Petróleo?

Um amigo da família Bush pode estar enfraquecendo a paz no Iraque.


Por Richard Wolffe e Gretel C. Kovach


Ray Hunt não é o típico magnata do Texas. Ao contrário de outros donos de petrolíferos que se promovem exageradamente na mídia como lendas, Hunt tenta com dificuldade manter seu nome fora dos jornais. O filho do empreendedor do petróleo H.L. Hunt, que passou sua vida debaixo dos holofotes, Ray Hunt raramente concede entrevistas e se recusa a fornecer mesmo detalhes fúteis sobre os trabalhos de seus investimentos em petróleo e imboliários. Ele doou grandes quantidades em dinheiro à sua alma mater, a Universidade Metodista do Sul (SMU), em Dallas, mas não permitiu que seu nome fosse afixado em qualquer dos prédios que seu dinheiro ajudou a pagar. A discrição de Hunt provavelmente é uma das razões de seu próximo relacionamento com a família Bush, que dá grande valor à privacidade.


O dinheiro de Hunt também pode ter algo a ver com isso. Através dos anos, o magnatas do petróleo levantaram milhares de dólares para eleger tanto George W. Bush pai como o filho. O filho recompensou Hunt com um assento na Mesa Diretora de Conselheiros de Assuntos Estrangeiros do Presidente, um painel de anciãos de fora do governo que inspecionam se o presidente está recebendo bons conselhos da comunidade internacional. Mais recentemente Hunt têm sido especialmente generoso em ajudar a planejar – e pagar – as ambições pós-presidenciais de Bush. Ele apoiou o presidente a construir a biblioteca presidencial Bush 43 na SMU – que é onde Laura Bush estudou – e desde então, ele deu 35 milhões de dólares à escola para pagar parte da terra onde o complexo da biblioteca será construído.


A generosidade de Hunt pode ajudar a explicar porque a Casa Branca parece aparentemente relutante em questionar outros projetos do negociante no ramo do petróleo – este agora no Iraque. Para aparente surpresa, e irritação, dos oficiais em Washington e Bagdá, a Hunt Oil anunciou este mês (Outubro, 2007) que, depois de negociações secretas, fechou um negócio com os líderes Kurdos que controlam o norte do país para explorar petróleo na região de Dahuk próxima à fronteira com a Turquia. Notícias sobre o negócio irritaram líderes árabes Iraquianos, que viram isso como um jogo de poder dos Kurdos pelos recursos de petróleo do país, um que pareceu interromper as já fracas conversações sobre um tema crítico para paz: um acordo entre os Sunni, Shiitas e Kurdos para dividir lucros do exuberante suprimento de petróleo do país. A esperança é que a lei de divisão do produto interno nacional ajude a diminuir a tensão – e reduzir a violência – ao fazer com que os três grupos trabalhem em direção à um objetivo comum. O ministro de Recursos de Petróleo do Iraque denunciou o acordo de Hunt como ilegal – apesar de que sem uma lei em voga é difícil argumentar que os Kurdos a violaram. Os Kurdos se recusam a apresentar os termos do negócio mas insistem que irão dividir os lucros.


Nos Estados Unidos, os rumores sobre o acordo inflamaram os caluniadores de Bush, que acusaram o presidente de ajudar um grande contribuidor a encher os bolsos às custas da paz no Iraque. Os oficiais da Casa Branca dizem não ter conhecimento das negociações de Hunt, e que não o ajudaram. Hunt não quis comentar, mas, Jeanne Philips, a porta-voz da empresa, disse que ninguém foi avisado das negociações. “Nós não discutimos negócios em potencial com o governo dos Estados Unidos,” ela disse. Após o acordo ter vindo à conhecimento público, segundo Philips, os oficiais do governo nos chamaram para pedir detalhes, mas mesmo assim a companhia se recusou. Oficiais Kurdos também dizem que mantiveram as negociações em segredo até dos Estados Unidos.


Oficiais da Casa Branca podem não ter ajudado Hunt a fechar o negócio, mas isso não significa que eles não estão fazendo o melhor para apresentar o projeto de Hunt como sinal de progresso. “É positivo que uma empresa escolha investir no Iraque – seja ela americana ou não,” disse o porta-voz Tony Fratto. Ele jogou com a noção de que o o negócio de Hunt pudesse minar negociações já tensas de tentar alcançar um acordo de divisão do petróleo. “Sobre a forma como isso tem impacto na reforma da lei de petróleo no Iraque, as autoridades de lá terão que resolver.” O subtexto otimista da Casa Branca diz: o acordo de Hunt irá proporcionar que os três grupos iniciem as negociações de uma lei nacional de petróleo no intuito de evitar futuros acordos secretos.


Ao menos um dos principais oficiais da Casa Branca estava disposto a expressar algum ceticismo. Perguntado pela NEWSWEEK sobre a controvérsia da conferência da última quinta, o Presidente Bush disse, “Eu não sabia nada sobre o negócio. Preciso saber exatamente como aconteceu. De maneira que isso não afete a capacidade do governo em apresentar planos de compartilhamento da renda do petróleo que unificam o país, obviamente se isso afeta, estou preocupado.” Existe uma maneira do presidente descobrir exatamente como o negócio aconteceu. Ele pode ligar seu velho amigo Ray Hunt e perguntá-lo.

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