NewsWeek.com . 06 de Setembro de 2008.
Um reavivamento religioso
O pastor presidente da antiga igreja de Palin prega o inferno para todo aquele que não é salvo por Jesus.
Por Lisa Miller
Desde 2004, a estória continua, os evangélicos estão mais brandos. Sim, eles ainda se importam com aborto e casamento gay. Mas uma geração nova e mais franca também se importa com aquecimento global, Darfur, analfabetismo, tráfico humano, e prevenção de doenças. A era da retórica religiosa divisível, caracterizada em James Dobson e Jerry Falwell, é passado. Anseiando ajudar a cuidar do planeta, esses cristãos estão construindo pontes entre esquerda e direita, entre o secular e o devoto, e até mesmo entre leitores de diferentes livros sagrados. Esses “novos” evangélicos, de acordo com a imprensa, estão agitados agora porque estão politicamente poderosos. Como Frances Fitzgerald colocou no New Yorker este verão, eles tem o potencial de “mudar o Partico Republicano além da identificação de Karl Rove ou renegá-lo à derrota eleitoral por muitos anos.”
Não tão rápido. Se a escolha da Governadora do Alaska, Sarah Palin, como a vice-candidata Republicana significa algo, é que os Cristãos conservadores – o tipo que escuta aos milhares ao programa de rádio de Dobson, “Foco na família”, e foram galvanizados a votar em Ronald Reagan graças a Falwell – ainda são numerosos e poderosos. Dos 60 milhões de evangélicos brancos nesse país, 60 porcento deles acredita que a Bíblia é literalmente a verdade. Mais de um terço acredita que o fim do mundo irá acontecer enquanto ainda estão vivos. E Palin, apesar de sua visão nova e jovem, fala diretamente a eles. Suas credenciais pró-vida são óbvias e indiscutíveis. Ela cresceu na doutrina das Assembléias de Deus, uma denominação pentecostal com teologia de fim dos tempos e que enfatiza a aderência a um código moral rigoroso: sem tabaco, sem álcool ou dançar socialmente. (E também não ao sexo antes do casamento, mas, deixa pra lá). O pastor presidente dessa igreja, em sermões que circularam online antes de serem retirados semana passada, prega o inferno para todos que não são salvos por Jesus. A América não sabe bem ainda sobre o que Palin acredita pessoalmente, mas seu passado cristão – ela agora frequenta uma igreja não-denominacional – a coloca nas tradições antigas da Igreja. A narrativa da mídia sobre o centro evangélico revitalizado não é errada. É só metade da história.
Está sendo interessante assistir aos “novos” evangélicos ziguezagueando com desconforto enquanto os antigos saudam Palin como se fosse a Segunda Vinda de Jesus. Logo após John McCain anunciar Palin como sua escolha, Dobson estava no rádio, dizendo que ele estava tão feliz como no dia em que Reagan foi anunciado. Enquanto isso, elites evangélicas e cristãos moderados lutam para aderir às visões pró-vida de Palin sem aderir totalmente à própria Palin. Parte de sua hesitação é esnobismo. Alan Jacobs, professor no Wheaton College, pensa que se Palin fosse a uma igreja evangélica num subúrbio abastado, “e colocasse o nome que colocou em seus filhos, e tivesse o tipo de atitude excêntrica que ela tem, ela seria perturbadora para as pessoas. Mas de alguma forma, sendo do Alaska, pareceu amolecer as críticas das pessoas. Eles não querem ser críticos com ela porque ela é tão dramaticamente pró-vida.”
Os Cristãos mais jovens expressam sua decepção com relação às regras do jogo que mudaram tão pouco. Cameron Strang é o editor de 32 anos da revista cristã Relevant e um advogado para as novas causas evangélicas. Que os evangélicos são pró-vida já está estabelecido, ele explica. Mas os jovens cristãos ficaram esperançosos nos últimos anos de que poderiam olhar além de aborto e outros assuntos – uma mudança na perspectiva que pode levar ao voto no Senador Barack Obama. Palin coloca esses cristãos num canto. “Ela não abordou assuntos que preocupam os jovens eleitores cristãos,” diz Strang. “De repente, somos nós contra eles e você tem que escolher um lado. Com o aborto sendo um assunto delicado, vai ficando cada vez mais difícil para os cristãos moderados se sentirem bem ao votar em Obama.” Tudo novo é velho novamente. A candidatura de Palin reaviva o direito religioso, o debate sobre aborto e os advogados ferrenhos por ambos. A única diferença é o batom.
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